Os mercados internacionais vivem o maior movimento de aversão ao risco dos últimos anos, um deslocamento violento iniciado no final da semana passada e potencializado na manhã de hoje.
O Vix, índice que mede a volatilidade, subiu acima dos 65 pontos – algo que aconteceu apenas outras duas vezes na história, em 2020, na pandemia da covid, e em 2008, na grande crise financeira internacional.
Há apenas duas semanas, em meados de julho, o índice era negociado em torno de doze pontos. De lá para cá disparou 550%, com a disparada concentrada nos dois nos últimos dias.
Ao redor do globo, os investidores liquidam suas posições em ações – sobretudo as do setor de tecnologia – e em outros ativos especulativos, migrando o capital para os portos seguros dos Treasuries.
O selloff teve início na semana passada depois da divulgação de dados fracos na atividade econômica dos EUA, entre eles a criação de vagas de emprego abaixo do previsto.
A Bolsa de Tóquio, que vinha se beneficiando de operações de carry trade, foi até aqui a mais castigada pelo meltdown. A queda foi acentuada pela perspectiva de aumento de juros pelo Banco do Japão em razão das pressões inflacionárias.
O índice Nikkei 225 fechou em queda 12,4%, o segundo maior tombo de sua história. Pior que isso, só a queda de 14,7% na ‘Black Monday’ de 1987.
As ações japonesas já caíram 25,5% desde o seu pico de julho e zeraram os até então expressivos ganhos do ano.
As maiores quedas foram em ações de instituições financeiras e de empresas de tecnologia.
Ao mesmo tempo, o iene tem se fortalecido em relação ao dólar, forçando os investidores a abandonar as suas posições de carry trade – com efeitos colaterais nas moedas de países emergentes, como o peso mexicano e o real.
Outras bolsas asiáticas também sentiram o baque. O índice Kospi, da Bolsa de Seul, caiu 8,8%, e em Taiwan a queda foi de 8%. O índice CNBC 100 Asia encerrou o dia com recuo de 6,1%.
Ações asiáticas que vinham se valorizando com a alta dos investimentos em inteligência artificial tiveram um pregão de fortes perdas.
Os papéis da TSMC, a principal fabricante global de processadores, encerram o dia em uma queda inédita de 9,8%.
Já as Treasuries americanas estão em alta, derrubando os yields.
Na visão dos analistas de Wall Street, cresce a possibilidade de os EUA entrarem em recessão – e os mercados passaram a precificar cortes mais intensos de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro.
A curva de juros americana ficou positiva pela primeira vez desde julho de 2022, refletindo a aposta de que o Fed cortará os juros em breve.
Os yields dos títulos de 10 anos já haviam ficado abaixo de 4% na semana passada e hoje recuam para 3,7%, o menor nível desde junho do ano passado.
Jeremy Siegel, o respeitado professor de finanças de Wharton, disse à CNBC que o Fed deveria fazer um corte emergencial de 75 pontos-base e sinalizar um outro corte de 75 pontos-base na reunião de setembro.
“A taxa da Fed Funds deveria estar em algo entre 3,5% e 4%,” disse Siegel, em razão dos indicadores de contração na atividade.
Na reunião da semana passada, o Fed manteve a taxa dentro da faixa entre 5,25% e 5,5% e preparou o terreno para um provável corte em setembro.
Na sexta-feira, os números do mercado de trabalho mostraram um aumento da taxa de desemprego para 4,3%, o maior patamar desde outubro de 2021.
Enquanto isso, argumentou Siegel, a inflação está convergindo para a meta de 2%.
“E quanto o Fed mexeu na sua taxa? Zero. Não faz sentido,” disse Siegel.
As bolsas americanas abriram a semana com fortes baixas, principalmente entre as Big Techs.
O índice Nasdaq iniciou o dia mergulhando 4,1%, enquanto o S&P500 recua 3,8%.
A Nvidia, que já havia desabado 23% desde o seu pico no ano, cai mais 9% agora pela manhã.
As ações da Apple mergulham 8%, sob o impacto também da notícia de que Warren Buffett liquidou metade de suas posições na companhia.
Ao mesmo tempo, Buffett vem acumulando posições maciças em cash e títulos públicos, que já somam US$ 277 bilhões.
No Brasil, o Ibovespa cai 1,5%. O dólar sobe 1,3%, aproximando-se de R$ 5,80.
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